Carnaval é resposta das ruas a Bolsonaro


Por artes do calendário, Jair Bolsonaro fecha o segundo mês de seu operoso governo – sobretudo no campo da citricultura – e imediatamente começa o Carnaval. Soa como uma intervenção da Providência, uma trégua na desgraça em favor da graça. Que já está sendo aproveitada como réplica irreverente ao mais atabalhoado e tragicômico governo da história da república.

O Carnaval de 2019 é o mais “politizado” do século. Antes mesmo da festa começar, o bloco Acadêmicos do Baixo Augusta, de São Paulo, arrebatou uma multidão que desfilou gritando uma palavra de ordem bem objetiva. A frase começava com “Ei, Bolsonaro, vai…” e concluía com aquela sugestão bastante específica que todos sabemos qual. Outros blocos e escolas de samba, de sul a norte, vão levar às ruas uma crítica debochada a este tempo que nos coube ver e viver.

O presidente e o caos que o rodeia também são, digamos, homenageados com uma profusão de marchinhas implacáveis, compostas e cantadas por ilustres desconhecidos. Um fenômeno de espontaneidade. Uma avalanche delas invadiu o Youtube e as redes sociais. Sua temática envolve de laranjas a goiabas, de mamadeiras eróticas a liquidificadores, de fuzis a fake news. Na alça de mira do riso, além de Bolsonaro e sua prole e seu motorista Queiroz, figura boa parte de seu ministério.

Uma das músicas, Overdose de Goiaba, mostra a que veio logo nos primeiros versos. Diz assim: “Em pleno Carnaval eu tava de bobeira/ Bateu uma larica, subi na goiabeira/ O céu estava escuro, já não tinha luz/ Chegou uma maluca me chamando de Jesus…”

Aliás, a ministra de direitos humanos virou musa de muitos compositores bissextos. Outra prova é a Marcha da Damares que recomenda o seguinte: “Menino se veste de azul/ Menina se veste de rosa/ O motorista, quem não manja/ É o que pode usar laranja”.

Algumas letras não recuam nem diante do palavrão. Mais comportada, a Marcha do Astronauta comenta: “Olha, olha o astronauta brasileiro/ Se não der certo ministro/ Ele volta/ A vender travesseiro”.

Os versos da Marchinha do COAF advertem: “É bom Jair arrumando uma desculpa/ Que o major já conversou com o coronel/ E o general já decretou: se tiver outro escarcéu/ O capitão vai ser expulso do quartel”.

Em ritmo de galhofa, são as ruas dando seu primeiro recado ao novo inquilino do Palácio do Planalto. É das ruas que outras respostas virão.

 

Ayrton Centeno é jornalista. Trabalhou, entre outros veículos, no Estadão, Veja, Jornal da Tarde e Agência Estado. Documentarista da questão da terra e autor de "Os Vencedores" (Geração Editorial, 2014) e “O Pais da Suruba” (Libretos, 2017), entre outros livros.

 

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