Intercâmbio aproxima metalúrgicos de São Paulo e do Rio Grande do Sul

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Intercâmbio aproxima metalúrgicos de São Paulo e do Rio Grande do Sul

Nem mesmo os mais de mil quilômetros de distância entre o ABC Paulista e o Rio Grande do Sul foram capazes de afastar os metalúrgicos na luta por direitos. Com o objetivo de fortalecer esses laços e compartilhar experiências entre diferentes realidades sindicais, entre os dias 30 de junho e 4 de julho, dirigentes dos Sindicatos dos Metalúrgicos do ABC e de Sorocaba (SP) visitaram sindicatos gaúchos em uma intensa agenda promovida pela Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT).

A programação foi organizada pelo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Porto Alegre, Adriano Filippetto, em parceria com os dirigentes Paulo Chitolina e Genilso Vargas da Rosa, além de João Marcelo Santos, assessor de formação da CUT-RS. Ao longo da semana, os representantes paulistas conheceram de perto a atuação e os projetos dos sindicatos de Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo, Cachoeirinha e Charqueadas. Além das visitas institucionais, participaram de rodas de conversa, assembleias e reuniões com trabalhadores e dirigentes locais.

A secretária de Formação da CNM/CUT, Maria do Amparo Travassos Ramos, que é também metalúrgica no ABC Paulista, destacou que o intercâmbio permitiu conhecer diferentes formas de atuação sindical, estratégias de base, experiências de organização nos locais de trabalho e processos de negociação coletiva. 

“Mais do que uma visita, foi um momento rico de troca, escuta e aprendizado mútuo, que fortaleceu os laços entre as entidades e possibilitou reflexões profundas sobre a ação sindical no atual contexto de ataques aos direitos da classe trabalhadora”, disse Amparo.

Para ela, esse tipo de vivência reforça a convicção de que a formação sindical não se dá apenas em salas de aula ou cursos, mas também — e principalmente — na práxis: no contato com a realidade concreta dos locais de trabalho e das estruturas sindicais. Ao observar, dialogar e compartilhar experiências, os sindicatos ampliam a narrativa  e se fortalecem para enfrentar os desafios do presente com mais unidade, criatividade e estratégia.

“A CNM/CUT acredita que a formação e a organização no local de trabalho são pilares essenciais para a construção de um sindicalismo combativo, propositivo e conectado com a base. Por isso, seguirá incentivando espaços como esse intercâmbio, que reafirmam o compromisso com a formação contínua, com a organização de base e com a transformação da sociedade”, afirmou a sindicalista.

Porto Alegre: ponto de partida

A jornada teve início na capital gaúcha com uma visita à tradicional Escola Mesquita, que soma mais de 62 anos de contribuição à formação de jovens e adultos trabalhadores. A diretora Claudete Oliveira apresentou o projeto pedagógico da escola e destacou com entusiasmo a renovação dos quadros sindicais. “Fiquei muito feliz em ver a juventude na direção sindical. Isso mostra que o sindicato se reinventa dia após dia”, comentou.

Durante a visita, os dirigentes também conheceram as instalações onde os estudantes realizam as aulas práticas de formação técnica e profissional. Além disso, foi exibido um vídeo que retrata a atuação da escola e do sindicato durante as enchentes de 2024, quando ambos abriram suas portas para acolher famílias atingidas pela tragédia. O material emocionou os presentes e reforçou o papel do sindicato como espaço de acolhimento e solidariedade em tempos de crise.

Na sequência, os dirigentes conheceram o projeto CUTComunidade, coordenado por Leonardo Rodrigues, que articula ações de combate à fome e à exclusão com a construção de políticas públicas. A visita também incluiu passagem pela sede da CUT-RS, onde foram recebidos pelo presidente Amarildo Cenci, além de visitas a iniciativas como a Cozinha das Pretas e a Associação de Moradores Força Maior da Pedreira, na zona sul de Porto Alegre.

Sindicato é mais do que fábrica

O intercâmbio também foi uma oportunidade de ampliar visões sobre o papel do sindicato. Jeniffer Caroline Almeida, de 25 anos, dirigente sindical da ZF Brasil pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba (SMETAL), participou de sua primeira atividade fora de São Paulo. “Minha visão era de que sindicato servia apenas para lutar por PPR e campanha salarial. Mas, depois de conhecer o projeto CUTComunidade e ver o abrigo do sindicato durante as enchentes, entendi que acolher famílias também faz parte da nossa missão. O sindicato vai muito além da fábrica”, relatou.

Charles Tuiuiu, metalúrgico da Volkswagen e dirigente do SMABC, também destacou o impacto das ações sociais. “O que mais me marcou foi a atuação durante as enchentes de 2024. Mesmo um ano depois, as histórias são contadas com detalhes e emoção. Isso mostra que o sindicato também presta um serviço à sociedade. A solidariedade e os projetos sociais precisam ser reconhecidos e levados para outras regiões.”

Cooperativismo e enfrentamento ao trabalho escravo

Na segunda-feira, os visitantes estiveram na Cooperativa Univens, localizada no bairro Sarandi, em Porto Alegre. A cooperativa é referência em economia solidária, sendo responsável pela produção de roupas ecológicas e por operar com sua própria moeda social.

No período da tarde, participaram de uma roda de conversa com Claudir Nespolo, superintendente regional do Ministério do Trabalho no RS e ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Porto Alegre. Nespolo compartilhou experiências sobre a atuação do órgão em casos de trabalho análogo à escravidão no estado e reforçou o papel dos sindicatos na proteção da classe trabalhadora.

Organização de base em destaque

O intercâmbio também teve como eixo o fortalecimento da organização nos locais de trabalho. Em São Leopoldo, os dirigentes acompanharam uma assembleia na empresa Oliveira e visitaram a unidade da Delga, que também possui fábrica em Diadema (SP). A agenda seguiu com a tradicional entrega da “Marreta” na Stihl e uma reunião com foco nos Comitês Sindicais por Empresa (CSEs).

O encontro reuniu dirigentes dos sindicatos do ABC, Sorocaba, São Leopoldo (STIMMMESL), Canoas e Nova Santa Rita (STIMMMEC) e da Grande Porto Alegre (STIMEPA), que compartilharam suas experiências sobre a implantação dos CSEs e debateram os desafios e avanços na representação de base.

Lírio Segalla, presidente da Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos do RS (FTM-RS) e ex-presidente do STIMEPA, lembrou que os comitês foram inspirados na experiência do Sindicato do ABC e trouxeram resultados concretos: “Aumentamos a representatividade das mulheres e o número de sindicalizados. Os CSEs nos fortaleceram.”

Solidariedade ativa

Mais do que uma troca de experiências, o intercâmbio foi também uma demonstração concreta de solidariedade sindical. Após a assembleia na empresa Oliveira, dirigentes paulistas se colocaram à disposição para liberar representantes de suas entidades, caso necessário, para apoiar a mobilização dos metalúrgicos gaúchos durante a campanha salarial.

Próximos passos

A proposta agora é que, ainda nesta semana, os sindicatos do Rio Grande do Sul definam uma data para a segunda etapa do intercâmbio — desta vez, com a visita dos dirigentes gaúchos ao ABC Paulista e a Sorocaba. Mais do que uma viagem, a iniciativa representa a construção de uma verdadeira unidade entre trabalhadores e trabalhadoras de diferentes regiões do país. Porque, apesar das distâncias, as lutas são comuns — e é a solidariedade que fortalece o movimento sindical.


Fonte: STIMEPA

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